A mudança que a maioria deseja é muito fácil de enunciar: melhores serviços públicos, de educação, saúde, mobilidade urbana, segurança e por aí vai. Tão fácil de enunciar como difícil de implementar. Se fosse fácil, todos os governantes dos últimos 500 anos já teriam atendido o clamor popular. (Clóvis Rossi)A presidente reeleita, Dilma Rousseff, já tem uma diretriz a obedecer – as metas estipuladas pelo Plano Nacional de Educação (PNE, 2014/2023). Para tanto, precisará priorizar ações que visem ao desenvolvimento da educação brasileira. Há uma expectativa unânime no país em relação à melhor qualificação de recursos humanos em nível superior que só poderá ser conseguida com a melhoria do educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio). Tal conquista permitirá que estudantes bem formados possam almejar desempenhos satisfatórios no mundo acadêmico e no mercado de trabalho. O objetivo de preparar gente capacitada deve estar ainda sintonizado com as demandas de uma sociedade em mutação, na qual o maior desafio para os mentores educacionais deve ser o de ajustar as demandas do desenvolvimento do país aos anseios por uma melhor qualidade de vida da população. Isto sem esquecer que não há solução para aprimorar o ensino que não esteja referenciada pelas mudanças sociais, econômicas, ambientais e pela revolução dos meios tecnológicos de comunicação e de informatização presentes no mundo atual. Consequentemente, tal desafio implica qualificar o ensino público para dar condições idênticas de boa formação a todos os jovens, independentemente de sua origem social. Na realidade brasileira, os alunos que chegam ao ensino superior frequentaram, na sua maioria, escolas públicas; tem mais de 20 anos e precisaram encontrar emprego antes de entrar na faculdade. Apesar da facilidade do financiamento propiciado pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), os alunos com este perfil – estudantes que trabalham – trazem sérias deficiências da educação básica e, mesmo com a formação superior adquirida nas instituições particulares, vão inicialmente ocupar, com raras exceções, os quadros intermediários das empresas. Em contrapartida, os alunos oriundos de um extrato social de maiores recursos, que fizeram um bom colegial em escolas pagas, que cursaram universidades públicas e/ou “faculdades de nicho” e que têm cursos de pós-graduação no país e no exterior apresentam maiores possibilidades de conseguir cargos de hierarquia mais elevada nas empresas. Esta dicotomia se deve à falta de vontade política em reformular o ensino médio – um imenso “gargalo”– que está a exigir uma revolução, com apoio do governo, das instituições de ensino superior (IES) e dos setores organizados da sociedade brasileira para vencer dificuldades de duas ordens:
- inexistência de uma política de Estado capaz de levar em conta que o ensino básico bem feito serve tanto de alicerce para a universidade quanto para o trabalho e
- valorização excessiva do ensino superior, por parte do sistema educacional brasileiro, graças à nossa herança cultural portuguesa – a do “país dos doutores” – ao considerar que a universidade deveria ser para os membros da elite, cabendo aos seus empregados o ensino de ofícios.
- Adotar ações que estão dando certo em muitos países, pela criação de um sistema educacional que prepare para a universidade e para o mundo do trabalho, cuja estrutura comporte relacionamento e fluxo entre os mesmos, podendo o estudante começar por uma modalidade e curso e, se quiser, mudar para outra;
- Conceber o sistema educacional para abrigar todas as tendências de aprendizado e, com isso, atender os alunos com dons, aptidões, objetivos, vocações e projetos de vida diferentes;
- Sensibilizar a população, por meio da informação, sobre a importância da educação – mola propulsora do desenvolvimento e do progresso e, ao mesmo tempo, condicionante para que as famílias possam obter melhor qualidade de vida e acesso social;
- Interagir, de forma inteligente e precisa, com as lideranças políticas para demonstrar que as transformações necessárias ao setor educacional precisam contar com o apoio daquelas;
- Incentivar os trabalhadores de educação em todos os níveis – que representam uma massa de centenas de milhões de pessoas – para que estejam solidários com as mudanças que a área exige;
- Valorizar a carreira do magistério – base de todo o sucesso das mudanças. Para tanto, é fundamental melhorar a formação de professores, prestigiar a profissão e, ao mesmo tempo, incrementar e valorizar os salários, cobrar desempenho e adotar a meritocracia;
- Apoiar políticas de fomento à inovação e à pesquisa voltadas ao desenvolvimento de novos modelos de comunicação educacional que tenham como objetivo a interação professor-aluno;
- Estimular e aperfeiçoar os sistemas de avaliação do desempenho dos estudantes e professores, por meio de estratégias pedagógicas para aferir resultados;
- Conceber o professor – com título e/ou denominação que a modernidade exigir – como o detentor do universo da aprendizagem. Embora o papel do professor possa mudar de simples comunicador para produtor, tutor, designer ou coordenador de informação, ele sempre será o profissional indutor do progresso e do conhecimento dos estudantes.